Distribuição de registros e riqueza de gêneros
Inicialmente, foi avaliado o número de registros e a riqueza de gêneros por estado e por bioma. Observou-se que estados como São Paulo, Minas Gerais, Pará e Amazonas concentraram tanto altos números de registros quanto maior riqueza de gêneros. No entanto, essa distribuição pode refletir um viés amostral, já que regiões com maior atividade de pesquisa e infraestrutura tendem a apresentar mais registros.
Correlação entre número de registros e riqueza de gêneros
Essa suspeita de viés foi confirmada pela análise de correlação de Pearson (r = 0,71; p < 0,001), que indicou uma forte correlação positiva entre o número de registros por estado e o número de gêneros observados. Isso sugere que parte da riqueza detectada pode estar inflada em áreas mais amostradas, confirmando a hipótese H1.
Comparação da riqueza de gêneros entre biomas
Para verificar se há variação significativa de riqueza entre os biomas brasileiros (H2), foi realizado um teste de Kruskal-Wallis. O resultado (p = 0,31) não indicou diferenças estatisticamente significativas, possivelmente devido à alta variabilidade no número de registros entre biomas. Isso reforça a necessidade de controle por esforço amostral nas comparações de diversidade.
Rarefação para controle de esforço amostral
Com base nisso, foi realizada a análise de rarefação utilizando o pacote {vegan}
. A rarefação estimou a riqueza esperada de gêneros se todos os biomas tivessem o mesmo número de registros. Os resultados mostraram que, mesmo após esse controle, a Amazônia e a Mata Atlântica se destacam com maior riqueza esperada, sugerindo que esses biomas são realmente mais diversos em termos de gêneros de formigas, independentemente do esforço amostral.
Gêneros mais frequentes por bioma
A análise dos gêneros mais frequentes em cada bioma revelou que Pheidole, Camponotus e Solenopsis estão entre os mais registrados. Essas formigas são amplamente reconhecidas como gêneros generalistas, altamente adaptáveis e com ampla distribuição geográfica, corroborando a hipótese H3. Sua presença dominante em diferentes biomas sugere elevada tolerância a variações ambientais, capacidade de nidificação variada e dietas onívoras. Tais características ecológicas favorecem sua ocorrência mesmo em ambientes antropizados.
Gêneros exclusivos por bioma
Por outro lado, também foram identificados gêneros exclusivos em cada bioma, como ocorreu na Caatinga e no Cerrado, onde certos gêneros ocorreram apenas nessas regiões. Apesar de menos frequentes, esses registros são ecologicamente relevantes, pois apontam para possíveis endemismos ou adaptação a condições ambientais mais específicas. A presença de gêneros exclusivos pode indicar que, mesmo biomas com menor riqueza geral, ainda possuem componentes únicos da fauna de formigas que merecem atenção em ações de conservação.
Associação entre gêneros e estados
O teste de qui-quadrado (χ² = 79511; p < 0,001, com simulação) demonstrou que a distribuição dos gêneros entre os estados não é aleatória. Isso reforça que fatores regionais — como clima, vegetação, altitude ou histórico de coleta — influenciam fortemente a composição taxonômica de cada estado. O resultado complementa a análise dos gêneros frequentes e exclusivos, demonstrando que diferentes estados (e biomas) abrigam conjuntos distintos de formigas, tanto por fatores ecológicos quanto por desigualdade no esforço amostral.